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canhão da Nazaré | CARLOS SARAMAGO

"O Esboço.............Nunca imaginei, no final de um verão sombrio e chuvoso, olhar do alto do sítio o canhão da Nazaré em lágrimas. Observar a onda gigante envergonhada por sustentar uma vara de porcos há quatro décadas alimentados a pérolas e a semearem fome e dor, pulam muros, pilham quintais, escaladores sociais profissionais sobem a escada e em vão tentam alcançar os céus para subornar as divindades. 
Contemplo o acrobático planar em liberdade das gaivotas, por vezes, desconcentrado, percorro com o olhar as palavras e frases de um livro, sobressaltado, não encontro na literatura a paz, o sossego que um Deus tanto necessita para revitalizar a mente, este cérebro que se confunde nesta ocidental praia lusitana, onde a hipocrisia mundana da classe vil e dominadora impera na lógica do capital, escravizando, subjugando.
O desastre é global, deixei que seres inferiores e medíocres criassem tantos obstáculos à prosperidade e bem comum, afundo-me no areal...
Meu pai, eu Ganesha, envergonhado, impotente e desolado, entrego-me em teus braços."

Desenho marcador permanente: Carlos Saramago
Texto : Luiz Morgadinho




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